"Por uma prática musical sem rótulos: Um manifesto anti-manifesto"

Formado por um coletivo de compositores e instrumentistas, o UNLABELED ENSEMBLE é um grupo de câmara que busca uma neutralidade ao evitar o comprometimento de se posicionar sob um rótulo ou território de atuação bem definido.

Sim, é um grupo de câmara contemporâneo, mas que não visa se restringir ao que se entende pela chamada “música contemporânea de câmara”. É contemporâneo pelo simples fato de ser pertinente ao seu tempo. Renunciamos, igualmente, a presunção do “novo” em uma prática atual, pois achamos que a “novidade” sempre existiu na prática artística. Entendemos que, na procura de novos ares, até mesmo rótulos como “experimental” e “vanguarda” são problemáticos, apesar de convenientes. No ensejo de uma abertura de espaço, esses termos não resolvem o problema, pois também se fecham em si mesmos. Paradoxalmente, qualquer manifesto e definição de uma prática artística cria novos muros, mesmo na tentativa de derrubar outros.

Por conseguinte, a forma que encontramos para transcender esse paradigma foi meramente ignorar e se esquivar de rótulos e manifestos propriamente ditos, para que possamos abrir mão de uma disputa territorialista e obter um trânsito mais livre na trilha de um caminho original e arejado. Não se trata de se afirmar como “inrotulável” (pois isso seria também uma espécie de rótulo presunçoso e falacioso), e sim de somente se configurar como um grupo aberto a diferentes linguagens. Em vista disso, formamos um grupo diversificado, como é natural na reunião de diferentes personalidades, mas também aspiramos por uma diversidade e versatilidade individual que componha o grupo.

Nossa intenção é simples: mostrar o trabalho pelo que ele é de fato, em cada concerto e colaboração coletiva, em vez de reduzi-lo superficialmente em um rótulo qualquer. Antes de mais nada, deseja-se uma transparência e um olhar mais detalhado à produção. Almeja-se uma clareza desmitificadora, em vez do marketing e a imagem do incomum.

Por fim, salienta-se a ideia de que pouco importa se um trabalho está dentro de um território bem definido ou não. Consequentemente, não focar em rótulos abre espaço para a criação musical falar por si mesma, é um ato que realça a música que se faz antes de um “tipo de música" a se fazer.

UNLABELED ENSEMBLE
São Paulo, junho de 2014